sexta-feira, 3 de maio de 2013

DESATANDO OS NÓS DO PROCESSO CRIATIVO



“Os processos de criação ocorrem no âmbito da intuição. As diversas opções e decisões que surgem no trabalho e que determinam a configuração em vias de ser criada, não se reduzem a operações dirigidas pelo conhecimento consciente.” (FAYGA, 2004).
Quando tomar decisões no trabalho? O que fazer? Como fazer? Será que vai ficar bom? E se estragar tudo? Será que o que eu acho que é bom, é bom mesmo ou só eu que acho?
Os processos intuitivos só se tornam conscientes a medida que expressamos, que lhes damos uma forma. A forma que damos a esse processo não pode ser finita, está em transformação assim como nós criadores. A percepção de si mesmo dentro do agir é um aspecto relevante que distingue a criatividade humana. Existe a necessidade do fazer, do experimentar. Do permitir-se.
A criatividade vai se manifestar e o trabalho vai evoluir quando houver permissão para o fazer. O responsável por tal permissão é o sujeito criador envolvido em seu processo. Nas palavras de Charles Watson, “...durante um tempo, você sentiu um bloqueio em seu trabalho. É como se, dirigindo, percebesse que há algo de errado no carro, sem identificar qual é o problema. Até se dar conta que o freio de mão estava puxado. Nesse momento, solta o freio e tem um alívio, o carro deslancha” (NACCACHE, 2013) e o trabalho flui.

Essencialmente, porém, no cerne da criação está nossa capacidade de nos comunicarmos através das formas. “A forma converte a expressão subjetiva em comunicação objetivada.” (OSTROWER, 2004). O trabalho flui à medida que ordenamos a expressão subjetiva e conseguimos comunicar através de algo materializado que deixa o campo das ideias e passa a existir no mundo físico e simbólico. O processo criativo como uma série de ordenações e compromissos internos e externos onde as possibilidades se tornam reais. As questões se configuram e apresentam uma nova forma, e é neste exato momento que surgem novas possibilidades. Essa forma de ver o pensamento criativo em constante evolução que se regenera por si mesmo abre caminhos para a evolução do trabalho.
Cada decisão, que se toma representa um ponto de partida, num processo de transformação que está sempre recriando o impulso que o criou.

“Quando uma pessoa tem muita convicção do resultado, deve doer mais. Agora, quando está aberta a surpresas, a andar por novos caminhos, fica tudo mais tranquilo. Há pessoas que tem certezas enraizadas. Para elas, deve ser difícil, realmente. Interessante é ser bem maleável como o ar. Porque no trabalho é preciso ir se acomodando com o que muda” (Jum Nakao).

“Então, a questão era conseguir enxergar em outra escala, ver talvez de cabeça para baixo. Quando a gente é criança, é comum pegar uma garrafa e fazer dela um caleidoscópio, por exemplo. Gostamos de ver possibilidades diferentes. Assim ocorre uma ‘sacação’, mas é preciso não ter tanta certeza. (Fernando Campana).

É neste rodamoinho de incertezas que vamos colocar nossas inseguranças e dúvidas a serviço da criatividade. Através das configurações interiores ordenadas pela forma na dialética do processo criativo obteremos novas possibilidades para o trabalho de design.

Bibliografia

CAMPANA, Fernando e Humberto. Campanas. São Paulo: Bookmark, 2003.

NACCACHE, Andréa. Criatividade Brasileira. Gastronomia, Design e moda. São Paulo: Editora Manole Ltda, 2013.

OSTROWER, Fayga. Criatividade e Processo de Criação. Petrópolis: Editora Vozes, 2004.

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