“Os processos de criação ocorrem no âmbito da intuição. As
diversas opções e decisões que surgem no trabalho e que determinam a
configuração em vias de ser criada, não se reduzem a operações dirigidas pelo
conhecimento consciente.” (FAYGA, 2004).
Quando tomar decisões no trabalho? O que fazer? Como fazer? Será que
vai ficar bom? E se estragar tudo? Será que o que eu acho que é bom, é bom
mesmo ou só eu que acho?
Os processos intuitivos só se tornam conscientes a medida que
expressamos, que lhes damos uma forma. A forma que damos a esse processo não
pode ser finita, está em transformação assim como nós criadores. A percepção de
si mesmo dentro do agir é um aspecto relevante que distingue a criatividade
humana. Existe a necessidade do fazer, do experimentar. Do permitir-se.
A criatividade vai se manifestar e o trabalho vai evoluir quando
houver permissão para o fazer. O responsável por tal permissão é o sujeito
criador envolvido em seu processo. Nas palavras de Charles Watson, “...durante
um tempo, você sentiu um bloqueio em seu trabalho. É como se, dirigindo,
percebesse que há algo de errado no carro, sem identificar qual é o problema.
Até se dar conta que o freio de mão estava puxado. Nesse momento, solta o freio
e tem um alívio, o carro deslancha” (NACCACHE, 2013) e o trabalho flui.
Essencialmente, porém, no cerne da criação está nossa capacidade de
nos comunicarmos através das formas. “A forma converte a expressão subjetiva em
comunicação objetivada.” (OSTROWER, 2004). O trabalho flui à medida que
ordenamos a expressão subjetiva e conseguimos comunicar através de algo
materializado que deixa o campo das ideias e passa a existir no mundo físico e
simbólico. O processo criativo como uma série de ordenações e compromissos
internos e externos onde as possibilidades se tornam reais. As questões se
configuram e apresentam uma nova forma, e é neste exato momento que surgem
novas possibilidades. Essa forma de ver o pensamento criativo em constante
evolução que se regenera por si mesmo abre caminhos para a evolução do
trabalho.
Cada decisão, que se toma representa um ponto de partida, num
processo de transformação que está sempre recriando o impulso que o criou.
“Quando uma pessoa tem muita
convicção do resultado, deve doer mais. Agora, quando está aberta a surpresas,
a andar por novos caminhos, fica tudo mais tranquilo. Há pessoas que tem
certezas enraizadas. Para elas, deve ser difícil, realmente. Interessante é ser
bem maleável como o ar. Porque no trabalho é preciso ir se acomodando com o que
muda” (Jum Nakao).
“Então, a questão era conseguir
enxergar em outra escala, ver talvez de cabeça para baixo. Quando a gente é
criança, é comum pegar uma garrafa e fazer dela um caleidoscópio, por exemplo.
Gostamos de ver possibilidades diferentes. Assim ocorre uma ‘sacação’, mas é
preciso não ter tanta certeza. (Fernando Campana).
É neste rodamoinho de incertezas que vamos colocar nossas
inseguranças e dúvidas a serviço da criatividade. Através das configurações
interiores ordenadas pela forma na dialética do processo criativo obteremos
novas possibilidades para o trabalho de design.
Bibliografia
CAMPANA, Fernando e Humberto. Campanas. São Paulo: Bookmark, 2003.
NACCACHE, Andréa. Criatividade Brasileira. Gastronomia, Design e moda. São
Paulo: Editora Manole Ltda, 2013.
OSTROWER, Fayga. Criatividade e Processo de Criação. Petrópolis: Editora Vozes,
2004.
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